1.Fauna, letra e música Lavoisier /
2.Estátua, poema de Judith Teixeira, música Lavoisier /
3.Vira, música tradicional portuguesa, (Marcolino, Fausto Bordalo Dias) /
4.Opinião, letra e música Lavoisier /
5.Viajar, poema de Fernando Pessoa, música Lavoisier/
6.Laranja, letra e música Lavoisier /
7.Obrigado, letra e música Lavoisier /
8.Romance do cego, música tradicional portuguesa /
9.Eu não me entendo, letra José Luís Gordo, música José Mario Branco /
10.Sou Povo, letra e música Lavoisier /

released September 29, 2017

Patrícia Relvas_ voz e percussões, Roberto Afonso_ voz, guitarra e baixo
José Valente_viola de arco, intérprete e arranjo em “Romance do cego”
Captador de emoções José Manuel Fortes
Composição e produção por Lavoisier

Apoios à edição:
Fundação GDA
CTL Festival do Silêncio

É Teu, é uma dedicatória ao outro, a quem nos aceita, a quem nos ouve, a quem simbioticamente permita que existamos.
Nesta missão em que se busca incessantemente uma verdade, que não sendo de ninguém, a todos pertence, Lavoisier agradece profundamente aos que ao nosso lado quiseram caminhar, rumo a um imaginário que também é Teu!

No álbum É Teu, encontramos um trabalho que reúne uma linguagem de um projecto com a idade de cinco anos, onde se contam estórias através de melodias, actos e pensamentos comuns. Falamos com poetas mortos, desconhecidos vários, carnes inalcançáveis e construímos um objecto com vida própria.

O título É Teu, introduz o paradigma do álbum, recusando a posse, revogando o conceito de imaginário colectivo.
Este novo imaginário pretende não só valorizar o nosso património cultural como difundi-lo pelo mundo, para que a imagem presa a um legado mais conservador possa florir para um futuro onde a musica cantada em português seja uma realidade inequívoca e inquestionável.
Apresentamos desta forma uma obra que nos define como artistas, pensadores, filhos do tempo que ouvimos. Com vontade de partilhar e libertar ondas sonoras, energia para o espaço sideral, na esperança de um passado nos querer ouvir.

E TEU

LETRAS: JUDITH TEIXEIRA, LUIS GORDO, FERNANDO PESSOA, FAUSTO BORDALO DIAS,LAVOISIER, POESIA POPULAR

São sonhos de alguém no mar,
São loucos quem os desprezar!
É o mar a ver alguém chegar.
É a terra arder, jovens a amar.
É a terra a ver pais a morrer.
É o mar a ver alguém chegar.
É a terra arder, jovens a amar…

Mas não sou eu,
Quem vem de encontro ao teu olhar.
Mas já sou eu,
Que anseia o teu voltar.

Erguem-se os lenços sob a proa.
Grunhidos, gemidos, rostos sofridos.
É este o som do nosso mar!

Mas não sou eu,
Quem vem de encontro ao teu olhar.
Mas já sou eu,
Que anseia o teu voltar.

Erguem-se os lenços sob a proa.
Grunhidos, gemidos, rostos sofridos.
É este o som do nosso mar!
Já…
O velho dizia:
– que o eu no meu, me encontraria
A paz, de quem nunca foi capaz.

A paz, de quem nunca foi capaz.

A paz, de quem nunca foi capaz

LAVOISIER

O teu corpo branco e esguio
Prendeu todo o meu sentido…
Sonho que pela noite, altas horas,
Aqueces o mármore frio
Do alvo peito entumecido…

E quantas vezes pela escuridão
A arder na febre de um delírio,
Os olhos roxos como um lírio
Venho espreitar os gestos que eu sonhei…

– Sinto os rumores duma convulsão,
A confessar tudo que eu cismei

Ó Vénus sensual!
Pecado mortal
Do meu pensamento!
Tens nos seios de bicos acerados,
Num tormento,
A singular razão dos meus cuidados
– Sinto os rumores duma convulsão,
A confessar tudo que eu cismei

Ó Vénus sensual!
Pecado mortal
Do meu pensamento!
Tens nos seios de bicos acerados,
Num tormento,
A singular razão dos meus cuidados

Poema de Judith Teixeira

Meninas vamos ao vira , ai!
Que o vira é coisa boa!
e vira que vira e torna a virar
as voltas do vira são boas de dar!

Meninas vamos ao vira , ai!
Que o vira é coisa boa!

Ô Marcolino, sempre a gritar
Longos pregões sem descansar
Diz Marcolino então o que fazes tu?

Ô Marcolino, das longas viagens
Diz Marcolino se outra vida tiveste
O que fizeste, o que te fez mudar?

Ô Marcolino sem medo da morte
Com teu braço forte, o que vais tu fazer?
Diz Marcolino, tens algo a perder?

Vira: popular
Marcolino: Fausto Bordalo Dias

Toda gente tem uma opinião,
Toda gente faz questão
De dizer sim ou não.
Toda gente tem uma opinião!
Se você soubesse
Toda gente tem uma opinião
,Toda gente faz questão
De dizer sim ou não.
Toda gente tem uma opinião!
Toda a gente, sim ou não
Faz questão, toda gente
Uma opinião,
Que dizer faz-te ter uma opinião!
Se você soubesse
Agrada-me saber que vou partir em qualquer sono
Abracem-me o desejo de ir sozinho ter contigo!

Viajar perder países,
Ser outro constantemente.
Por a alma não ter raízes,
De viver, de ver somente.

Não pertencer nem a mim,
Ir em frente ir a seguir.
A ausência de ter um fim
E ânsia de o conseguir.

Viajar assim é viagem,
Mas faço-o sem ter de meu.
Mais que o sonho da passagem,
O resto é só terra e céu!

Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra.
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar.

E se houver
Uma praça de gente madura,
Ninguém vem, ninguém vem
Levantá-lo do chão!

Fernando Pessoa

Laranja como se de casa fosse.
Laranja,
Meu menino, pequenino.
O medo afasta-te de mim!

Corredor ao fundo, longo,
Fujo num segundo.
Quero ir, para não vir!
Não sei o que possa encontrar…

Laranja como se de casa fosse.
Laranja,
Meu menino, pequenino.

O medo afasta-te de mim!

Num quarto bege,
Vejo uma janela aberta,
Beijo o céu, o céu.
A pesar não consigo voar…

Lavoisier

Pétalas carnudas mordo,
Pétalas desnudas visto em mim.
Cedo dói,
Cripto em mim.
A seda dói.
Voou embora borboleta.
Não!
Logo agora vem a aurora,
Logo a amora cai lá fora.
Maresia fria e fina
Voou embora borboleta,
Não!

Lavoisier

Era meia noite quando o ladrão veio.
Bateu três pancadas à porta do meio.
Acorde minha mãe seu doce dormir
Venha ouvir o cego cantar e pedir

Se o cego pede e canta dá-lhe pão e vinho
E que o pobre cego siga o seu caminho.
Não quero seu pão nem quero seu vinho.
Só quero que a Anita me ensine o caminho.

Pega nessa roca, carrega de linho
E vai com o pobre cego ensinar-lhe o caminho.
Adiante cego lá vai o caminho,
Já não posso mais acabou-se me o linho.

Anda, anda Anita só mais um cibinho.
Ao chegar acima aquele crueirinho.
Válha me Deus valha e a Virgem sagrada.
Nunca vi um cego d’espada dourada.

Eu não sou o cego nem tal Deus queria
Sou aquele príncipe que te pretendia.
Eu não sou o cego nem tal Deus queria
Sou aquele príncipe que te pretendia.

Adeus minha casa com tantas janelas.
Adeus minha mãe tão falsa me eras.
Adeus minha casa tantos olivais.
Adeus minha mãe para nunca mais!

Poesia popular- Vinhais, Trás-os-montes

Entrego a minha voz,
Ao coração do vento
E quanto mais água,
Dos meus olhos corre,
Mais fogo acendo
Eu não me entendo,
Eu não me entendo.

E por ti já gastei
Todo o pensamento
Ai amor, ai amor
Se o tempo já gastou,
Já gastou o nosso tempo
Eu não me entendo,
Eu não me entendo.

A primavera do meu tempo,
Já gastei a primavera do meu tempo.
Já fiz da boca jardins de vento
E não me entendo,
E não me entendo
Eu não me entendo!

José Luís Gordo

Por mares bravios andei a amar

Julguei salgadas as magos de teu ar

Mas sei da morte me abraça o respirar

Sou Povo

 

Lavoisier